A "arte" de ser psicóloga
- constasantos
- 31 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Para post final do nosso blog decidimos perguntar a uma psicóloga sobre o que é realmente a sua profissão. Assim, de seguida temos o seu ponto de vista.
Como qualquer processo criativo, é uma “arte” em permanente construção. Investimos numa faculdade, que nos dá apenas os alicerces da casa, para depois irmos a partir daí, construindo paredes e janelas até chegar ao telhado, consolidando três ferramentas básicas, conhecimento, experiência e aprendizagem contínua. Talvez seja das “artes”, a que mais interesse desperta, pelo estudo e análise subjetiva da dimensão humana, onde o psicólogo intervém, ajudando a pessoa que está em sofrimento a identificar o problema e a sua origem, trabalhando áreas como auto-conhecimento, identidade, auto-estima, sempre na perspetiva de ir potenciando recursos e capacidades para melhor gerir a sua vida.
Numa sociedade em que cada vez mais o que se impõe é o imediato, isto é a necessidade de alcançar objetivos rápido, ser psicólogo é uma “arte” que requer tempo na sua prática…tempo de nós para os outros que nos procuram e tempo para o próprio processo de mudança se desenrolar.
Tal como uma obra de “arte”, é importante nos ligarmos à pessoa, admirá-la de todas as perspetivas, naquilo que ela nos traz e confia, acolhendo a sua existência no momento em que se encontra. Não existem moldes perfeitos, nem deve existir a ambição de ver a obra acabada, pois todos nós estamos continuamente sujeitos a experiências de crescimento e mudança. Algumas mudanças já fazem parte do nosso desenvolvimento, outras são impostas como desafios ao nosso crescimento. Daí a importância de o psicólogo ajudar a pessoa, a olhar a sua experiência e “obra” como algo, que está em permanente (re)construção. Podemos assim dizer que somos uma espécie de “artistas”, que ajudamos pessoas a usar as suas próprias ferramentas, sejam elas os pinceis, o barro, os tijolos, a tela onde queiram voltar a (re)pintar, a (re)modelar ou (re)escrever a sua história, sob um olhar menos distorcido pelas emoções e menos atormentado pelos pensamentos. Nesta díade emoção-pensamento, fico sempre na dúvida qual deles é o fator mais determinante na experiência de sofrimento psicológico, pois nos últimos tempos parece haver uma certa predisposição para as pessoas valorizarem mais o que os seus pensamentos determinam, do que as suas emoções lhes fazem sentir.
A nova era que se aproxima, em que tudo passa a digital, vem acelerar todo este processo, pelo que se torna urgente trabalhar outros aspetos que só ao ser humano assiste, que é a sua capacidade única de vivenciar o momento, na sua dimensão mais existencial, não deixando de se surpreender com a vida, aceitando e preservando aquilo que é mais único e especial em si, a sua identidade.
- Vanessa Raposo (psicóloga psicoterapeuta formada no ISPA)
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